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Nota de repúdio

11/05/2022 09:45

 

O NEABI- NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS AFRO-LATINOAMERICANOS, DOS POVOS ORIGINÁRIOS E QUILOMBOLAS / NEABI- ARA vem publicamente pronunciar-se sobre a ocorrência de situação vexatória a que foram expostos um estudante indígena e um outro discente, ambos, do curso de medicina ocorrido no dia 06/05/2022, às 11h no auditório no prédio Jardim das Avenidas, campus Araranguá.

Nos manifestamos contra quaisquer atitudes vexatórias e/ou racistas que exponham qualquer pessoa, por sua origem, raça, etnia, gênero, classe social ou deficiência.

Não é regrado institucionalmente a obrigatoriedade de sentar-se nos eventos institucionais ou extrainstitucionais que ocorram no campus, sendo assim, torna-se atitude arbitrária a imposição para tal.

O comportamento apresentado pelo grande grupo e pela repercussão enfatizada e direcionada ao discente indígena, mostra que a agressão tem corpo socialmente marginalizado que se direciona ao silenciamento e o desejo de subserviência e/ou recusa das formas de manifestações. Onde a retaliação por se manifestar sobre o direito de não sentar foi recebida pelo grande grupo como uma afronta à referida docente, ao contrário da postura de outra discente que ocupa o cargo de representante estudantil totalmente ignorado e tão pouco repudiado.

Destaca-se que a postura autoritária de uma representante do CALMED foi totalmente ignorada por esse mesmo grande grupo. Isso enfatiza que alguns corpos têm o direito de se impor mesmo que seja da forma errônea e autoritária, sendo sua postura socialmente aceita, em detrimento de outro que não foi garantido o direito mínimo de escolher ficar em pé ou sentado.

Segundo o estudioso Silvio Almeida:

“A ênfase da análise estrutural do racismo não exclui os sujeitos
racializados, mas os concebe como parte integrante e ativa de um
sistema que, ao mesmo tempo que torna possíveis suas ações, é por eles
criado e recriado a todo momento. O propósito desse olhar mais
complexo é afastar análises superficiais ou reducionistas sobre a
questão racial que, além de não contribuírem para o entendimento do
problema, dificultam muito o combate ao racismo. Como ensina
Anthony Giddens, a estrutura “é viabilizadora, não apenas restritora”,
o que torna possível que as ações repetidas de muitos indivíduos
transformem as estruturas sociais.”(almeida, 2019)
Prezada direção do Centro acadêmico do curso de medicina,

Em sua nota de pedido de desculpas, nos mostra mais uma vez que a atitude tomada por um representante da categoria estudantil é de não assumir seus atos. Não foi um erro de interpretação, foi a expressão do autoritarismo por parte desta representação estudantil.

Ressaltamos que os discentes em tela, são em sua maioria acadêmicos do curso de medicina, e nos cabe questionar, que formação médica nós estamos construindo no curso? Para nos ajudar a refletir:

“O desafio de transformar o ensino médico em um ambiente antirracista está posto desde 2009 com o lançamento da PNSIPN e reforçado em 2014 pelas DCN. Após 11 anos da política, a pandemia de Covid-19 reforça a existência do racismo institucional na saúde e os danos provocados por ele, convocando mais uma vez os profissionais de saúde e escolas médicas a refletir sobre seu papel no combate ao racismo estrutural na sociedade ou na reprodução dele. Por um lado, mudanças são processos sempre difíceis que exigem comprometimento, autoconhecimento, reconhecimento de limitações e enfrentamento de dificuldades. Por outro lado, também é difícil para a população negra viver em um país que insiste em negar o racismo como fator que impacta o processo de saúde e adoecimento, ainda que este esteja provocando a morte de vidas negras cotidianamente. É de cada profissional de saúde, de cada IES e de cada entidade médica a decisão diária de silenciar e reproduzir ou de ativamente se implicar no combate ao racismo na saúde e em todas as esferas sociais.”(ENSAIO • Rev. bras. educ. med. 44 (Suppl 01) • 2020)
Queremos uma universidade verdadeiramente inclusiva, diversa e respeitosa com as diferenças. “Não basta não ser racista, precisamos ser antirracistas.”

Fonte:

https://blogs.uninassau.edu.br/sites/blogs.uninassau.edu.br/files/anexo/racismo_estrutural_feminismos_-_silvio_luiz_de_almeida.pdf

https://www.scielo.br/j/rbem/a/WXBd8cr76HZw9MhrcYNwMtP/?lang=pt

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12288.htm

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